sábado, 2 de outubro de 2010

Ciganos


Rotas migratórias do povo cigano pela Europa.
Os roma na Europa.
Uma mãe rom com criança.

Ciganos é um exônimo para roma (singular: rom; em português, "homem") e designa um conjunto de populações nômades que têm em comum a origem indiana e cuja língua provinha, originalmente, do noroeste do sub-continente indiano.

Essas populações constituem minorias étnicas em inúmeros países, entre a Índia e o Atlântico, e são conhecidas por vários exônimos. O endônimo "rom" foi adotado pela União Romani Internacional ( em romani: Romano Internacionalno Jekhetanipe) e pelas Nações Unidas. [1]


Rom
ou roma propriamente ditos, presentes na Europa centro-oriental e, a partir do século XIX, também em outros países europeus e nas Américas;Na Europa, esses povos, de origem indiana e língua romani, são subdivididos em diversos grupos étnicos:

  • Sinti, encontrados na Alemanha, bem como em áreas germanófonas da Itália e da França, onde também são chamados manoush;
  • Caló, os ciganos da Península Ibérica, embora também presentes em outros países da Europa e na América, inclusive no Brasil.
  • Romnichals, principalmente presentes no Reino Unido, inclusive colônias britânicas, nos Estados Unidos e na Austrália.

Além de migrarem voluntariamente, esses grupos também foram historicamente submetidos a processos de deportação, subdividindo-se vários clãs, denominados segundo antigas profissões procedência geográfica, que falam línguas ou dialetos diferentes. [2]



Devido à ausência de uma história escrita, a origem e a história inicial dos povos roma foram um mistério por um longo tempo. Há 200 anos, antropólogos culturais criaram a hipótese de uma origem indiana dos roma, baseada na evidência linguística, o que foi confirmado pelos dadosgenéticos.

Acredita-se que os roma têm as suas origens nas regiões do Punjab e doRajastão, no subcontinente indiano. Eles iniciaram a sua migração para a Europa eÁfrica do Norte, pelo planalto iraniano, por volta de 1050.

Até meados do século XVIII, teorias da origem dos roma se limitavam a especulações. Então, em 1782, Johann Christian Cristoph Rüdiger publicou sua pesquisa que apontava a relação entre o romani e o hindi. Trabalhos seguintes deram apoio à hipótese que alíngua romani possuía a mesma origem das línguas indo-arianas do norte da Índia.

Uma cigana ao lado duma igreja na Itália.
As Caravanas - Acampamento cigano em Arles, França, pelo pintorVincent van Gogh.

Os roma originaram-se de populações do noroeste da Índia, obrigadas a emigrar em direção ao ocidente, possivelmente em ondas, entre 500 d.C. e 1000 d.C.. Partiram em direção à Pérsia, onde se dividiram em dois ramos: o primeiro, que tomou rumo oeste, atingiu a Europa através da Grécia; o segundo partiu para o sul, chegando à Síria, Egitoe Palestina. A emigração da India provavelmente ocorreu no contexto das invasões deMahmud de Ghazni[3] Os povos derrotados mudaram-se para o ocidente com suas famílias, entrando no Império Bizantino. Por volta do século XI a língua romani apresenta claros traços de línguas indo-arianas modernas,[4]. Assim, devido à conquista territorial e política dos estados indianos, muitas caravanas rom partiram para a Europa, Oriente Médio e Norte da África, em uma migração que os roma chamaram de Aresajipe.

No continente europeu, o grupo espalhou-se, principalmente pela Hungria, Áustria e Boêmia, chegando à Alemanha em 1417. Em 1422 chegou a Bolonha. Em 1428, encontrava-se na Françae Suíça. Em 1500, surgiram os primeiros ciganos ingleses.

Os anos de 1555 e 1780 são marcados por um período de perseguições e intolerância: em vários países foram cometidos atos de violência contra os ciganos.

A falta de uma ligação histórica precisa a uma pátria definida ou a uma origem segura não permitia que fossem reconhecidos como grupo étnico bem individualizado, ainda que por longo tempo tenham sido qualificados como egípcios. O clima de suspeitas e preconceitos se percebe no florescimento de lendas e provérbios tendendo a pôr os roma sob mau prisma, a ponto de recorrer-se à Bíblia para considerá-los descendentes de Caim, e portanto, malditos.[5] Difundiu-se também a lenda de que eles teriam fabricado os pregos que serviram para crucificar Jesus (ou, segundo outra versão, que eles teriam roubado o quarto prego, tornando assim mais dolorosa acrucificação). Caracterizados pelo nomadismo, o modo de vida dos ciganos e suas condições de subsistência são sempre determinados pelo país em que se encontram: os mais ricos são os ciganos suecos e os mais pobres encontram-se nos Bálcãs e no sul da Espanha.

Embora mantendo sua identidade, em alguns aspectos os roma revelam grande capacidade de integração cultural: sempre professam a religião local dominante, da mesma forma que suas danças, músicas, narrativas e provérbios manifestam a assimilação da cultura no meio em que vivem. Sua capacidade de assimilar a música folclórica permitiu que muitas peças fossem salvas do esquecimento, principalmente as do Oeste Europeu. Excluindo as publicações soviéticassobre o assunto, existem apenas nove livros escritos em romani.

Durante a Segunda Guerra Mundial, entre duzentos e quinhentos mil ciganos europeus teriam sido exterminados nos campos de concentração nazistas. Entre os roma, o massacre é denominado de porajmos e começou a ser recuperado pela historiografia apenas a partir dos anos 1970.


Idiomas

A maioria dos roma fala algum dialeto do romani, língua muito próxima das modernas línguas indo-europeias do norte da Índia e doPaquistão, tais como o prácrito, o maharate e o punjabi.

Tanto o sistema fonológico como a morfologia podem ter sua evolução facilmente reconstruída a partir do sânscrito. O sistema numeral também reflete parcialmente o vocabulário sânscrito. Com as migrações, os roma levaram sua língua a várias regiões da Ásia, da Europa e das Américas, modificando-a. De acordo com as influências recebidas, distinguem-se dialetos asiáticos de europeus. Entre as línguas que mais influenciaram nas formas modernas do romani estão o grego, o húngaro e o espanhol.[carece de fontes]


Tradições

Debret, Interior de casa cigana (c. 1820).

Os roma não representam, como já se salientou, um povo compacto e homogêneo. Mesmo pertencendo a uma única etnia, existe a hipótese de que a migração desde a Índia tenha sido fracionada no tempo e que, desde a origem, eles fossem divididos em grupos e subgrupos, falando dialetos diferentes, ainda que afins entre si. O acréscimo de componentes léxicos e sintáticos das línguas faladas nos países que atravessaram no decorrer dos séculos acentuou fortemente tal diversificação, a tal ponto que podem ser tranquilamente definidos como dois grupos separados, que reúnem subgrupos muitas vezes em evidente contraste social entre si.

As diferenças de vida, a forte vocação ao nomadismo de alguns, contra a tendência à sedentarização de outros pode gerar uma série de contrastes que não se limitam a uma simples incapacidade de conviver pacificamente.

Em linhas gerais poder-se-ia afirmar que os sintos são menos conservadores e tendem a esquecer com maior rapidez a cultura ancestral. Talvez este fato não seja recente, mas de qualquer modo é atribuído às condições socioculturais nas quais por longo tempo viveram.

Quanto aos roma de imigração mais recente, nota-se, ao invés, uma maior tendência à conservação das tradições, da língua e dos costumes próprios dos diversos subgrupos. Sua origem, de países essencialmente agrícolas do leste europeu, favoreceu certamente a conservação de modos de vida tradicionais. Antigamente era muito respeitado o período da gravidez e o tempo sucessivo ao nascimento do herdeiro; havia o conceito da impureza ligada ao nascimento, com várias proibições para a parturiente. O aleitamento ainda dura muito tempo, às vezes se prolongando por alguns anos.

No casamento, tende-se a escolher o cônjuge dentro do próprio grupo ou subgrupo, com notáveis vantagens econômicas. É possível a um rom casar-se com uma gadjí, isto é, uma mulher não-rom, a qual deverá porém submeter-se às regras e às tradições rom. Vige naturalmente o dote. No grupo dos sintos, geralmente o casamento é precedido pela fuga do casal. Aos filhos é dada uma grande liberdade, mesmo porque logo deverão contribuir com o sustento da família e com o cuidado dos menores. No que se refere à morte e aos ritos a ela conexos, o luto pelo desaparecimento de um companheiro dura em geral muito tempo. Entre os sintos parece prevalecer o costume de se queimar a kampína (o trailer) e os objetos pertencentes ao morto. Entre os ritos fúnebres praticados pelos roma está apomána, banquete fúnebre no qual se celebra o aniversário da morte de uma pessoa. A abundância de alimento e bebidas exprime o desejo de paz e felicidade para o defunto.

Além da família extensa, entre os roma encontramos a kumpánia, ou seja, o conjunto de várias famílias (não necessariamente unidas entre si por laços de parentesco) mas todas pertencentes ao mesmo grupo, ao mesmo subgrupo ou a subgrupos afins.

O nômade é por sua própria natureza individualista e mal suporta a presença de um chefe: se tal figura não existe entre os roma, é entretanto devido o respeito para com os mais velhos, que sempre são solicitados a dirimir eventuais controvérsias.

Entre os roma, a máxima autoridade judiciária é constituída pelo krisnitóri, isto é, por aquele que preside a kris. A kris é um verdadeirotribunal rom, constituído pelos membros mais velhos do grupo, que se reúne em casos especiais, para resolver problemas delicados, envolvendo controvérsias matrimoniais ou ações que resultem em danos a membros do grupo. Na kris podem participar também as mulheres, que são admitidas para falar. A decisão cabe aos anciãos designados, presididos pelo krisnitóri. Ouvidas as partes litigantes, é punida a parte culpada. Em tempos recentes a controvérsia se resolve, em geral, com o pagamento de uma soma proporcional ao tamanho da culpa. No passado, se a culpa era particularmente grave, a punição podia consistir no afastamento do grupo ou, às vezes, em castigos corporais.


Religião

Os roma não têm uma religião própria, um deus próprio, sacerdotes ou cultos originais. Parece singular o fato de que um povo não tenha cultivado, no decorrer dos séculos, crenças em uma divindade particular, nem mesmo primitiva, do tipo antropomórfico ou [[totem|totêmico]]. O mundo do sobrenatural é constituído pela presença de uma força benéfica, Del ou Devél, e de uma força maléfica,Beng, contrapostas, numa espécie de zoroastrismo, provável resíduo de influências que esta crença teve sobre grupos que, em época remota, atravessaram o Irã. Ademais, as crenças ciganas incluem uma série de entidades, cuja presença se manifesta sobretudo à noite. Mas, em geral, os roma parecem ter-se adaptado, ao longo da história, às confissões vigentes nos países que os hospedaram, embora sua adesão pareça ser exterior e superficial, com maior atenção aos aspectos coreográficos das cerimônias, como as procissões e as peregrinações, próprias de uma religiosidade popular, sobretudo católica. Um sinal de mudança se dá pela difusão do movimento pentecostal, ocorrida a partir dos anos 1950, através da Missão Evangélica Cigana, surgida na França. Em seguida a isso, registram-se todavia profundas lacerações no interior de muitas famílias, devido às radicais mudanças de costume que a adesão a essa religião impõe, dada a natureza fundamentalista do movimento religioso em questão. Tais imposições muitas vezes acabam por induzir os roma a uma recusa de suas peculiaridades culturais.


Educação

"Aumentar o sucesso dos ciganos , do povo roma e das crianças nómadas é responsabilidade de todos dentro do sistema de educação, uma importante medida na eficácia das políticas de combate à exclusão escolar e social." Segundo o relatório de Ofsted de 1999, os alunos ciganos de famílias itinerantes apresentam resultados mais baixos que os de qualquer grupo étnico minoritário e são o grupo de maior risco no sistema de ensino no Reino Unido. O relatório Swann revela diversos factores que influenciam a formação de crianças ciganas da mesma forma que influenciam outros grupos minoritários étnicos. Entre estes factores, os que têm maior peso foram identificados como o racismo e discriminação, mitos, estereótipos e a necessidade de uma maior ligação das escolas com os pais das crianças ciganas. [6][7] [8][9][10]

No Brasil, Mirian Stanescon foi a primeira cigana a a se formar num curso superior. Formou-se em direito na Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro, em 1973.[11]


Ciganos famosos

  • Mircea Lacatus é um escultor cigano, formado pela Universidade de Artes em Bucareste, Roménia.
  • Ceija Stojka é uma escritora austríaca , foi a primeira escritora de etnia cigana a escrever um livro sobre o Holocausto.
  • Juana Martin Manzano é uma designer de moda espanhola, ganhou vários prémios no mundo da moda .
  • George Bramwell foi um jornalista da BBC escritor de livros de história natural.
  • Jarmila Balazova é uma jornalista e editora Checa de etnia cigana.
  • Alija Krasnici é um escritor da ex-Iugoslávia.
  • Ricardo Quaresma é um futebolista Português.
  • Eugene Hütz é um cantor e ator Ucraniano

São várias as pessoas de etnia cigana que em diversas partes do mundo se destacaram em áreas tão diversas como literatura, escultura, musica, desporto ou ciências. Outras pessoas como o actor Michael Caine , Sofia Kovalevskaya ou o prémio nóbel Schack August Steenberg Krogh têm antepassados ciganos.[12]


Parlamento Europeu recebe prémio da comunidade rom

O presidente do Parlamento Europeu, Hans-Gert Pöttering, recebeu no dia 2 de abril de 2009 um prêmio pelo trabalho desenvolvido peloParlamento Europeu na defesa dos direitos da comunidade rom na Europa. O prêmio foi entregue por representantes das principais organizações europeias, em nome da comunidade rom, antes do Dia Internacional dos Roma, que se celebra no dia 8 de abril.[13]

Dos 12 a 15 milhões de roma que vivem na Europa, 10 milhões vivem em Estados-Membros da União Europeia, a maioria dos quais adquiriu a cidadania europeia com o alargamento de 2004 e a adesão da Romênia e da Bulgária em 2007.

Nenhum comentário:

Postar um comentário